quinta-feira, 15 de março de 2012

Extremos

Há algumas semanas, me perguntaram se me comparam muito com a  minha irmã. Resolvi discorrer sobre o assunto e colocar na ponta do lápis três comparações que sempre foram um fantasma na vida dessa irmã mais nova que vos fala:

1 - Toda reunião de família, o pessoal começa a lembrar como era quando os filhos/sobrinhos/netos eram pequeninos e hoje resolvi revelar: minha irmã era o "capeta em forma de guria".

- Ela cortava o cabelo das minhas primas escondido, no estilo "cabelo de surfista".

- Botou fogo num sobrado que morava com meus pais. Não sobrou um lápis!

- Numa viagem de trem com a minha mãe, soltou um pum e disse: Ai mamãe, que feio! Fica peidando no trem!".

- Botou fogo em uma cabana cheia de crianças dentro, porque eram rivais de quarteirão.

- Defecou nos sapatos do meu pai.

- Batia nos meus primos que eram mais velhos que ela.

E mais mil ítens que posso continuar citando aqui até enjoar, porque, acabar, não acaba nunca. E, lógico, sempre depois de falar da minha irmã ficam todos em silêncio lembrando dos episódios e acho meio impossível não pensar ‘e a Gabriéla?’.
Pois é. Perguntem: E você?
Eu? Eu, nada!
Porque enquanto minha irmã aprontava, eu estava na mesa da cozinha conversando com ervilhas, no chão da sala montando casa de boneca com na estante, brincando de formar casais com os lápis de cor, picotando papéis ou dormindo, porque como uma tia disse uma vez, era me deixar quieta por 1 minuto que eu deitava onde estava e dormia. A única coisa que conseguem dizer é: A Gabriéla era insuportável. E o engraçado é que temos uma parte da família que só encontramos em ocasiões extremas, do tipo velório. E uma prima minha, 20 anos mais velha, inventou de relembrar essa épocazinha com certas palavras "A Gabi, aaaah, a Gabi.. Dava vontade de pisar no pescoço dela e esmagar pra parar de ser chata." 
Fiz a linha Kátia: Não vi nada. Não ouvi nada. Não lembro de nada.. Saí andando!

2. Sempre demorei muito mais pra pegar no tranco e isso não é segredo pra ninguém.

Quando minha irmã tinha uns 5 aninhos, minha mãe disse que se ela parasse de chupar chupeta naquela semana, ganharia um presente. Parou naquele dia e nunca mais.

Tentou isso comigo desde antes dos 5 anos e eu parei faltando 15 dias para completar… 9 anos.

Eu fazia questão de escolher minha fralda no supermercado e colocá-la sozinha. O mínimo de dignidade, né, por favor.

E ah, minha irmã parecia uma boneca quando criança. Usava tudo o que minha mãe comprava. Já eu, escolhia minhas roupas. Surpreendia quando chegava no colégio com uniforme e botas de pelo. Lembrando também, do casamento da minha prima Fabíola em que fui de Botas de cowboy.(Que eu mesma escolhi e briguei para conseguir usá-las no dia do casamento.)

         (Eu, muito simpática(com as botas). Minha irmã fantasiada de cantora gospel. Fabíola com o rostinho alegre de quem foi obrigada a casar porque engravidou. Mamãe com um Chanel Bapho de fenda e Mi de topete.)
3. Por último, algo que sempre compararam é inteligência/esperteza. Claro, é normal irmãos disputarem as melhores notas e tal.

Mas só vou fazer UM comentário: na mesma idade em que minha irmã sabia quem era Gorbachev, eu perguntava pra minha mãe qual parte da vaca era o frango.



Né.

Pra constar: todas as informações desse post foram confirmadas pelos meus pais e eu agradeço a eles por não desistirem de mim apesar de tudo isso. Mas é aí que vem um porém. No fim das contas, sem mim, a minha irmã-mais-velha-prodígio não ia conseguir: dieta(porque ela precisa de alguém pra ter estímulo e mostrar o quanto ela sabe sobre o assunto, rs), sorrir tanto, ouvir Regina Spektor e Kate Nash, dormir depois de um filme de terror e muito menos assistir, até então sou a única que também gosta disso. sem mim, ela não ia ser uma pessoa minimamente equilibrada. E sem mim, nunca teria feito um estrago na conta do Supermercado comprando delíciosos Chocolates da Mônica 8 vezes ao dia. Escondido, é claro!

Sem contar que se essa lazarenta não parar de tomar café eu, provavelmente, vou ter que doar um pedaço do meu fígado pra ela.

Então, se você tem um filho que parece meio banana e autista, dê tempo a ele pra crescer e se desenvolver no seu próprio ritmo. É absolutamente normal.

Já se você tem um filho que bota fogo na cortina e fecha a porta do quarto como ela fez, jogue no rio, o quanto antes.

Sério, era o que a gente deveria ter feito.

Brincadeira, Tatá. Sem você, quem iria cutucar minha comida após dizer que não queria pedir nada? Quem dividiria o quarto comigo com quarto sobrando? Quem tomaria meus Danones? Pra quem eu deveria dinheiro eternamente? Quem quase me mata de rir quando lê as coisas em inglês? Quem faria caldo de legumes sem sabor? Quem iria pedir um pouco de sorvete e ficar chupando a minha casquinha?



Brincadeira de novo! Sabe que tenho vontade de dar na sua cara por essas coisas, mas, sem você, quem me defenderia? Quem me mandaria ser gente quando só tenho vontade de sentar e chorar? Quem pegaria roupas no consignado e esconderia pr'eu não comprar? Quem? Quem me levaria nos lugares? Quem reclamaria a cada trago do cigarro que eu pedisse? Quem me mandaria viver um pouco? Quem me mandaria acordar pra vida?

Se sem mim, ela não é uma pessoa minimamente equilibrada, sem ela, não sou uma pessoa minimamente desequilibrada. E sem o desequilíbrio, sem arriscar, eu não seria metade do que sou.

Um viva pros extremos!


Te amo!

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